terça-feira, 4 de novembro de 2025

  

A intenção é que conta

        Há dias estava num supermercado e na fila para pagamento encontrava-me entre um indivíduo de meia-idade aparentemente esfarrapado ou melhor com indumentária talvez de trabalho, de estatura baixa e um casal de jovens, de pele escura. O homem não fazia a barba há pelo menos duas semanas tinha bigode espesso com muitos mais dias por rapar e achei curioso o facto das calças que usava e um casaco à caçador terem uma grande quantidade de bolsos. Só nas calças, eram para aí uns 5 ou 6 em cada perna.

        Reparei também – quando estamos na fila dá para ver tudo porque as caixas de atendimento são sempre bastante reduzidas e são longos minutos de espera para sermos atendidos – que o sujeito apenas ia pagar uma caixa de cervejas que estavam em promoção e uma garrafa de moscatel. No momento do pagamento depois de saber quanto custavam as cervejas e o moscatel o homem começou a tirar as moedas que tinha nos bolsos das calças e casaco… moedas de baixo custo e foi um pandemónio porque cêntimo e mais cêntimo, euro e mais euro, nunca mais chegava à conta devida e os bolsos iam ficando vazios, até que chegou ao último bolso, pareceu-me e tirou mais uns quantos cêntimos, enquanto eu olhava para trás e trocava olhares de surpresa com o jovem casal que me seguia na fila! Eu estava mesmo a adivinhar que o dinheiro do homem não ia chegar para pagar as suas cervejas e o moscatel e deduzi de imediato que iam faltar uns quantos cêntimos e logo me preparei, modéstia à parte, para pegar na minha carteira e tirar uma moeda de 1 ou 2 euros para ajudar o indivíduo que me parecia aflito enquanto apalpava uns quantos bolsos da roupa à caçador que usava.

        Os jovens que estavam atrás de mim, também impacientes, aperceberam-se da minha intenção e do meu movimento, mas de repente o sujeito meteu a mão num dos bolsos que ainda não tinha sido rebuscado e sacou uma mão cheia de moedas de 2 euros!!

        E lá pagou a caixa de cervejas e a garrafa de moscatel, guardou o dinheiro que lhe sobrou e abalou encantado da vida! Eu, humildemente guardei a minha carteira e virando-me para trás comentei com o rapaz e a sua companheira que, afinal, o tipo tinha mais dinheiro do que eu e eu estava disposto a ajudá-lo!

        O rapaz sorriu e disse-me: - Não faz mal, a intenção é que conta!



Mandrake Mágico

3 comentários:

  1. Não houve acção mas intenção , que afinal foi o que contou e pela positiva ... ! Venham de lá outros contos . Aquele abraço .

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  2. Muito bom, e o que é facto é que nem ficou a dever nem precisou de ajuda👍

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  3. História engraçada. E se for verdadeira é sinal de que em qualquer passagem da nossa vida quotidiana podemos extrair assunto para uma pequena narrativa. - ARCO-ÍRIS🌈

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