terça-feira, 7 de outubro de 2025

 UM FINAL IMPREVISTO

O redemoinho disse basta para si mesmo e ameaçou girar para o outro lado . mas percebeu que seria a mesma coisa, mais cedo ou mais tarde falaria atsab até que um dia ia ver que as voltas que davam não levariam mais longe que a um navio encalhado na areia mais funda do mar .

O redemoinho sabia muito, mas não dava para se livrar do nojo do cadáver inchado e cuspindo para cima, que não saía de sua correnteza.


Mas o culpado era ele mesmo. O pobre do sujeito estava feliz com a sua bóia de pneu, fingindo ser um herói para a família , que aplaudia suas bravuras, sentada em volta de um piquenique.

Uma braçada para lá, três quatro mais para o fundo, dando só tempo de acenar e enfiando a cara na água . O indivíduo parou para respirar e medir o oceano que era só dele. Tirou a bóia e encostou a cabeça feliz.

Na praia a mulher que conhecia o marido muito mais do que gostaria, tratou de virar as costas para o mar e pensar em outra coisa . Mas como ? Há nove anos que ela tentava, e sempre que conseguia, ele voltava do trabalho, do futebol, do café . O casal amigo do escritório parou de rir. Zeca estava indo longe de mais, ele mesmo tinha dito que não era dessas coisas , mas nadando como é que ia voltar daquela lonjura ? O sogro se levantou e apontou para o mar com uma perna de frango : mas a onde vai aquele imbecil ?

O piquenique virou uma pergunta, Zeca virou cadáver e o redemoinho parou de virar . De mar calmo, o domingo foi melhor ainda . Desagradável foi só a noite, o engarrafamento na serra, o rádio do carro avariado e o Zeca cheirando daquele jeito .

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