Torneio Cinquentenário Mistério Policiário
Às sextas-feiras, na
Tasca do Zeferino, depois da hora de encerramento, havia sempre tertúlia. Jogo
da sueca, petiscos, bom vinho e conversa animada reuniam os quatro amigos de
longa data: Alberto, proprietário da única farmácia da vila, leitor apaixonado
de clássicos e diários desportivos; João, tranquilo agricultor de pomares e
vinhas, fornecedor do melhor vinho da casa; Jorge, carteiro, versejador e
fadista amador; e o dono do estabelecimento, que tinha também um dos mais
impressionantes bigodes da Freguesia e uma notável colecção de carros antigos.
Como de costume, desde que
voltara para Vilar da Pedreira, Frederico, mais conhecido por
"Traquitanas", um filho da terra que andara a correr mundo, deixou-se
ficar numa mesa, a arrastar a última cerveja e a desfiar as suas fantasias. Já
em pequeno era assim, e talvez viesse daí a sua alcunha. O mundo real
aborrecia-o um tanto, pelo que se refugiava na sua actividade preferida de
químico auto-didacta e inventor independente. Escusado será dizer que poucos o
levavam a sério, sobretudo desde que em garoto o seu "aditivo especial
para motores a dois tempos" atirou muitas Famel e V5 para a oficina e os
seus donos para a troça pública.
Pelas duas da manhã, o
"Traquitanas" ainda monologava o seu tópico preferido: o "motor
a água"! Os da tertúlia sorriam daqueles devaneios. Menos o farmacêutico,
que, de ar pensativo, concentrado no jogo da sueca, sentenciava: "Tanto
fala no motor a água, que um dia ainda é raptado a mando de alguma
petrolífera!".
Passada uma hora, rumaram a
casa, bem bebidos e desopilados, uns mais direitos que outros e o
"Traquitanas" muito às curvas, de modo que o grupo ainda o acompanhou
com o olhar, não fosse ele cair nalguma ribeira das que atravessam a pitoresca
povoação.
O sábado amanheceu lindo,
primaveril e ensolarado. Só uma pessoa em toda a vila não estava com disposição
para o desfrutar. Pelas onze horas, o Raul, amigo verdadeiro e benfeitor do
autoproclamado inventor, foi convidá-lo para almoçar. Fartou-se de bater à
porta, sem resposta. Acabou por decidir-se a entrar, não viu o seu protegido e
ficou preocupado. E ainda mais quando reparou numa garrafa de cerveja quase
vazia, com meia dúzia de pontas de cigarro no fundo, sobre a mesa de trabalho
de Frederico, mais conhecido como "Traquitanas", onde se amontoavam
os esquemas enigmáticos das suas máquinas e tralhas diversas. Havia duas
cadeiras, uma de cada lado da mesa.
A garrafa de cerveja,
cinzeiro improvisado, de estranhar em casa de um não fumador, inquietou Raul. A
sua primeira ideia foi chamar ajuda, mas ao fim e ao cabo, um homem adulto e
celibatário é livre de voltar ou não para casa sempre que bem lhe apeteça.
No entanto, alguma coisa lhe
dizia que o seu amigo não se achava fora de livre vontade. Considerou os
indícios da teoria que começava a germinar no seu cérebro. De tudo o que estava
sobre a mesa do génio incompreendido, chamaram-lhe a atenção os cigarros, que
eram daqueles franceses, com o desenho de uma bailarina de flamenco na
embalagem azul. A caneta esferográfica, com a inscrição "Ricordo di
Venezia" e o desenho de uma gôndola, abonava a favor da sua fama de
viajado. Havia ainda um baralho de cartas de jogar de temática de Animais
Africanos, a pisar as cartas da zebra, do flamingo e do rinoceronte, viradas
para cima, e um frasco ainda por encetar, com um rótulo que dizia “Xarope de
Própolis”. A cama da singela habitação de solteiro estava por fazer. Dos
projectos e esquemas nada entendeu. Talvez fossem apenas elucubrações de uma
mente fantasiosa.
Quando chegou a casa, toda a
família lhe estranhou o semblante carregado e a ausência do esperado conviva,
que era sempre garantia de entretenimento para as crianças, com histórias
mirabolantes e gracejos sempre prontos.
Toda a tarde Raul se
atormentou: "E eu que gosto tanto de resolver problemas policiários... em
miúdo até participava nos Torneios do “Mundo de Aventuras”, e agora não consigo
desvendar este!". Tentou mostrar-se calmo, não quis preocupar a Esposa,
mas os pensamentos borbulhavam.
Lembrou-se de levar o xarope
ao Alberto da farmácia, que confirmou que o vendera na véspera para tratar a
tosse rebelde do "Traquitanas". Ficou muito abalado com a notícia do
desaparecimento, e, enquanto Raul se afastava, ainda veio à porta da farmácia
gritar, levantando os braços: "Eu avisei que isto havia de
acontecer!".
Raul passou pela tasca onde
o amigo costumava parar, e todos confirmaram ainda não o terem visto. A
preocupação crescia. Mas o nosso homem não desistiu. Já era quase de noite
quando, depois de muito remoer, deu uma palmada na testa e correu a chamar a
Polícia: "Tenho a certeza de que sei onde está o Frederico!" - dizia
ele em voz alta para si mesmo, apressando o passo.
E sabia. Foram encontrar o
desafortunado inventor numa certa cave, abandonada, em Vilar da Pedreira,
prisioneiro de alguém que queria por força arrancar-lhe o segredo da sua
suposta invenção. Estava esfomeado e desorientado, mas resistiu galhardamente.
Diz quem passou recentemente
na vila que o famoso motor funciona e está em testes. Se tudo correr bem,
Portugal terá alcançado a sua independência energética e Frederico Costa, o
"Traquitanas", terá uma estátua na praça principal. E o Raul bem
merece figurar a seu lado…
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
Não contamos aqui como é que o Raul descortinou quem sequestrou o seu amigo, nem revelamos a identidade do criminoso, porque o detective amador de Vilar da Pedreira nos pediu que usássemos a sua aventura para testar o raciocínio dos nossos leitores e recomendar-lhes que se exercitem nos mistérios... policiários!
AGORA APRESENTE A SUA “PROPOSTA DE SOLUÇÃO” !
ENDEREÇOS E PRAZOS PARA
O ENVIO DAS RESPOSTAS:
As respostas devem ser enviadas impreterivelmente até às 24h00 do dia 31 de Outubro de 2025, através dos seguintes exemplos:
a - Via Messenger, Facebook, mensageiro instantâneo e aplicativo de Luís Rodrigues. 📲
b - Por emails, correio electrónico, de Luís Rodrigues:
reporter.de.ocasiao@gmail.com 📧
c - Por Mão Própria, directamente e pessoalmente a "O Gráfico", em qualquer lugar! 👋
d - Utilizando o Correio Normal (CTT): 📦📩
Luís Manuel Felizardo Rodrigues (O Gráfico)
Praceta Bartolomeu Constantino, 14, 2.º Esq.
FEIJÓ 2810 – 032 ALMADA
Além dos prémios em disputa ao longo do torneio, constantes da Lista Oficial que está descrita no Regulamento, serão sorteados em cada Problema Policiário - nas doze Provas! - os seguintes prémios:
- 1 Livro de Problemas Policiários e Soluções de M. CONSTANTINO, Oferta de Salvador Santos, juntamente com um Bloco de Apontamentos da Tipografia Lobão, Oferta de José Silvério, para sortear entre os concorrentes totalistas.
- 1 Conjunto de 12 Postais Ilustrados de Montemor-o-Novo, Oferta de Francisco Salgueiro, para sortear entre todos os concorrentes não totalistas.
Sem comentários:
Enviar um comentário