A
música alta abafava todos os sons, excecpto o burburinho das vozes e o tilintar
de copos na festa luxuosa organizada pela Câmara. Era a noite mais aguardada do
ano e, para o detetive Rafael, cada segundo era uma corrida contra o tempo. Ele
sabia que o assassino estava ali, camuflado entre os convidados, pronto para
fazer sua próxima vítima.
No
meio da multidão, o detective a avistou, linda em um vestido preto simples. Ela
sorriu ao vê-lo, mas sua expressão mudou ao notar a gravidade em seu olhar. Ele
não teve coragem de contar sobre o perfume. O frasco tinha chegado naquela
manhã, com um bilhete anónimo que Katarina, inocente, achou romântico.
Era doce e cítrico, intenso e marcante — exactamente o tipo de fragrância que atraía o assassino."É sempre o mesmo padrão... Ele escolhe mulheres jovens, cabelos escuros, e as presenteia com aquele maldito perfume. Um bilhete anónimo, palavras doces... Parece romântico, mas é a assinatura dele. Uma armadilha. Um aviso de que elas estão marcadas. E agora, Katarina recebeu o dela. Não pode ser coincidência."
O relógio marcava 23h55. Ele tinha cinco minutos para salvá-la. Pois já conhecia os modos de agir do assassino."Não foi só pela aparência... Ela o desafiou, expôs sua caçada doentia. Quando aquela menina ligou para o número denúncia, foi Katarina quem ligou os pontos e acionou a equipe a tempo. Salvou uma vida. Porém ele fugiu. E agora, ela se tornou um alvo. O perfume, o bilhete... É a maneira dele dizer que vai terminar o que começou. Só que desta vez, eu não vou deixar."
Rafael não tirava os olhos de Katarina, acompanhando cada movimento dela na multidão. Mesmo sem saber, ela era um alvo. O perfume que usava fazia dela um íman para o assassino. De longe, ele viu quando um garçom se aproximou. Entregou-lhe uma bebida e um pequeno bilhete dobrado. Katarina o aceitou com um sorriso curioso, abriu o papel e o leu rapidamente. Quando seus olhares se encontraram, ela sorriu com emoção.
"Ela pensa que fui eu." Não havia tempo para explicações. Ele foi em direcção a ela, os olhos fixos, cada passo pesado pela tensão. Numa fracção de segundo, Rafael a perdeu de vista. O salão parecia tê-la engolido."Não, não agora!" Ele disparou em meio à multidão, a mente gritando com as possibilidades. Katarina, com o bilhete ainda em mãos, avançava em direcção a saída do salão, com o sorriso de expectativa ainda no rosto. Para ela, estava indo ao encontro de Rafael. Para ele, era uma corrida contra o tempo para impedir que o assassino fizesse sua jogada final.
Rafael
chegou ao lugar mais escuro da festa, um corredor pouco iluminado que levava a
uma saída lateral. Seu coração disparava, tanto pela corrida quanto pela
preocupação. Ele não conseguia ver Katarina, mas o perfume ainda estava no ar,
como uma trilha invisível que o guiava.
Uma
silhueta surgiu das sombras. Ela estava lá, os olhos brilhando de um jeito que
nunca tinha visto antes. Segurava o bilhete na mão, no entanto, o sorriso
gentil que ele conhecia havia desaparecido.
—
Você veio — disse ela, com uma tranquilidade assustadora. Katarina
ergueu a mão, e o brilho metálico da arma foi a última coisa que ele viu antes
de ouvir o som dos tiros. Ele
caiu de joelhos, o mundo girando ao seu redor. O perfume era sufocante agora,
misturado com o cheiro de pólvora. —
Você...? — Rafael conseguiu dizer. A
mulher com o perfume inebriante se aproximou, inclinando-se sobre ele.
—
Sempre foi você, Rafael. Agora... está feito.
Katarina
amassou o bilhete e jogou sobre o corpo inerte de Rafael . Era meia noite !
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