quarta-feira, 5 de novembro de 2025

   

O silêncio da madrugada

A cidade dormia sob o véu espesso da madrugada quando o crime aconteceu.

Eram 03h13 da manhã quando os sensores da câmara de vigilância da rua Gago Coutinho registaram a movimentação. Um homem de estatura mediana, vestindo um casaco escuro e boné, caminhava com pressa, carregando algo envolto em um lençol branco. Na esquina da, Rua Sacadura Cabral parou por alguns segundos, olhou ao redor, e desapareceu pela lateral do antigo prédio do sindicato dos salsicheiros, abandonado há anos.

Pouco depois, um vizinho acordou com o latido insistente do seu cão, na varanda. Foi ele quem viu, pela janela do segundo andar, a movimentação estranha. Ao perceber o vulto fugindo, ligou para a polícia.

A investigação posteriormente levada a cabo, revelou sinais de arrombamento na casa número  123 da mesma rua. A porta das traseiras havia sido forçada com uma alavanca, e no interior, a cena era perturbadora: sinais de luta, móveis revirados e, no chão da sala, o corpo sem vida de Artur Mendes, 68 anos, um aposentado conhecido na vizinhança pela sua rotina pacata.


Os exames periciais constataram que a morte ocorreu por asfixia, provavelmente com o mesmo lençol em que o criminoso envolveu o seu corpo antes de fugir. Não havia sinais de roubo, o que afastava a hipótese de latrocínio. O telemóvel da vítima foi levado, mas a carteira, o dinheiro e algumas jóias estavam intactos.

Dois dias depois, com base nas imagens das câmaras de vigilância , a polícia prendeu, Carlos Nascimento, 25 anos, ex-funcionário da vítima, demitido alguns meses antes após uma discussão violenta. Durante o interrogatório, ele confessou o crime. Alegou ter perdido tudo após a demissão e culpava Artur Mendes pela sua ruína. Entrou na casa decidido a enfrentá-lo, mas a discussão saiu do controle.

O crime chocou a vizinhança e expôs o quanto mágoas não resolvidas podem evoluir em silêncio — até se tornarem , como neste caso, tragédia.

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