A rapariga já não podia sair à rua, pois os veículos paravam à revelia dos condutores, e estes, por sua vez, perdiam toda capacidade de ação. Houve um engarrafamento monstro, que durou uma semana, embora Gertrudes houvesse voltado logo para casa.
A Assembleia da República aprovou uma lei de emergência, proibindo Gertrudes de chegar à janela. A rapariga vivia confinada num salão em que só entrava a sua mãe, pois o mordomo se suicidara com uma foto de Gertrudes sobre o peito.
Gertrudes não podia fazer nada. Nascera assim, este era o seu destino fatal: a
extrema beleza. E era feliz, sabendo-se incomparável. Por falta de ar puro,
acabou sem condições de vida, e um dia encerrou os olhos para sempre. Sua
beleza saiu do corpo e ficou pairando, imortal. O corpo já então enfezado de
Gertrudes foi recolhido ao jazigo, e a beleza de Gertrudes continuou cintilando
no salão fechado a sete chaves.
💇😉👸
ResponderEliminarNo Afeganistão mandaram recentemente emparedar as janelas, para que as mulheres, já proibidas de sair de casa e de falar, sejam agora proibidas de ver a rua e de ser vistas. O conto está fabuloso, mas a realidade ultrapassa sempre a ficção.
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