Torneio Cinquentenário Mistério Policiário
O ASSASSINATO DO VELHO MILIONÁRIO
Júlia era uma moça
atraente, simpática, mas longe de ser bonita. A verdadeira beleza dela estava
na sua inteligência e na extraordinária capacidade de observação e perceção de
pormenores. Como desde ainda pequena tinha percebido o seu tio, Tiago
Rodrigues, inspetor da Judiciária. Devotado à sua paixão pela investigação
criminal, não resistiu a submeter a sobrinha, a partir dos seus doze aninhos, à
descrição pormenorizada dos casos em que ia estando profissionalmente
envolvido. Poupando-a aos aspetos mais violentos ou sórdidos, colocava-lhe cada
caso como um mistério a resolver. E a Júlia, nunca se fazendo rogada,
correspondia com plena vontade, descobrindo invariavelmente a solução.
Nessa
tarde, Tiago conversava com ela sobre o seu último caso.
Um
velho milionário tinha sido assassinado em casa, sentado à sua secretária. Um
tiro na cabeça, com o projétil a entrar logo acima da testa, junto à sutura
coronal, e a sair logo abaixo da nuca, por cima da primeira vértebra. O tiro
tinha sido disparado a relativamente curta distância, entre metro e meio e dois
metros, e não havia quaisquer indícios de que o corpo tivesse sido mexido após
o crime. A arma não estava no escritório.
Os
suspeitos eram os seus dois filhos, adultos na casa dos vintes e, obviamente,
potenciais herdeiros da sua fortuna. Os dois estavam em casa na altura do
crime, mas era a tarde de domingo e os dois criados, o mordomo e a empregada,
estavam a gozar a sua folga. Como acontecia muitas vezes em casos semelhantes,
não se davam particularmente bem com o pai.
O
mais velho, Rui, um homem atlético a roçar os dois metros de altura, ainda
mantinha um relativo contacto com o pai. Não os unia propriamente uma amizade
recíproca, ainda menos um amor filial ou paternal, mas falavam-se diariamente,
com normalidade, e o velho milionário aprovava sem reservas a atividade
profissional do Rui, num cargo de direção na área comercial de uma das empresas
da família.
Mas a irmã, Susana, que parecia uma criança ao seu lado, magra e no seu escasso metro e sessenta, já nem sequer falava com ele há um bom par de meses, profundamente revoltada com o facto de o pai se opor ao seu relacionamento com o namorado. A sua última interação tinha sido uma violenta discussão, em que o pai ameaçou deserdá-la se ela prosseguisse aquela relação e em que ela, furiosa, lhe atirou com um livro à cabeça.
Filhos
de dois casamentos tardios sucessivos do velho, em ambos os casos terminados em
viuvez. Se as relações deles com o pai eram más, entre eles também não havia
mais do que uma tolerância fria.
–
Quando lá cheguei – continuou Tiago – ambos estavam no escritório, sentados em
cadeiras em cantos opostos, com o médico-legista e os peritos que vistoriavam
cuidadosamente toda a divisão. Nenhum deles parecia muito perturbado… Ambos
afirmaram ter ouvido o disparo, mas estavam nos respetivos quartos e disseram
não ter visto ninguém entrar ou sair do escritório. Relutantemente, segundo as
suas palavras, a filha tinha ido ao escritório e vendo o pai obviamente morto –
o orifício de entrada da bala na cabeça era perfeitamente visível, com o torso
do velho deitado na secretária, de frente para a porta – decidiu chamar a
Polícia. O irmão chegou ao escritório pouco depois de ela acabar o telefonema.
– Não
foi difícil descobrir que havia uma pistola em casa, pertença do Rui. Este foi
lesto a dizer que tinha mexido nela uns dias antes, para a limpar, como fazia
regularmente, mas que agora ela não estava no respetivo estojo, não fazendo
ideia onde estaria. Quando ouvira o disparo tinha instintivamente tirado o
estojo do armário onde estava guardado e constatara o seu desaparecimento.
– Uma
rápida busca permitiu encontrar a pistola no quarto da Susana – continuou o
inspetor – por baixo das suas roupas interiores numa gaveta da cómoda. A Susana
não tinha qualquer explicação para a arma ali estar, limitando-se a repetir que
não tinha sido ela a pô-la ali. Com o projétil extraído do estofo das costas da
cadeira onde o velho tinha sido assassinado, no topo da pequena lomba da zona
dos rins, a perícia identificou a pistola como sendo a arma do crime, mas não
havia nela quaisquer impressões digitais. Um exame rápido às mãos do Rui e da
Susana também não revelou quaisquer indícios de que tivessem disparado uma
arma.
–
Face às evidências conhecidas, claro que prendemos a Susana e vamos acusá-la do
assassinato do pai…
– Que
achas, Júlia?
Júlia
manteve-se uns segundos em silêncio, olhando para as mãos no regaço.
–
Acho que se enganaram, tio… – disse, em voz baixa e serena, levantando o olhar.
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E,
caro Leitor, que acha você ?
ENDEREÇOS E PRAZO PARA O ENVIO DAS RESPOSTAS:
Luís Manuel Felizardo Rodrigues
Praceta Bartolomeu Constantino, 14, 2.º Esq.
FEIJÓ 2810 – 032 ALMADA.
Além dos prémios em disputa ao longo do torneio, serão sorteados em cada problema os seguintes prémios:
- 1 Livro de Problemas Policiários e Soluções de M. CONSTANTINO, oferta de Salvador Santos, juntamente com um Bloco de Apontamentos da Tipografia Lobão, oferta de José Silvério, para sortear entre os concorrentes totalistas.
- 1 Conjunto de 12 Postais Ilustrados de Montemor-o-Novo, oferta de Francisco Salgueiro, para sortear entre todos os concorrentes não totalistas.
☝ O Torneio de Decifração e Produção de Homenagem ao Cinquentenário da Secção do saudoso "Sete de Espadas", 🕵🂧️♤ "Mistério... Policiário" - TCMP - 1975 - 2025, arquitectado por um vasto número de Policiaristas, apoiado e aceite por todos os Blogues e Site do panorama actual da Problemística Policiária... já contou com a participação de 65 Concorrentes, 🖋 só na apresentação de "propostas de solução", pois serão mais, ainda, quando englobarmos os Produtores dos Problemas Policiários, como é o caso desta Etapa n.º 7, da Autoria de "Rigor Mortis", confrade que não está a solucionar!
ResponderEliminar📖🏆🎓🔍🧐 O momento é solene e gratificante e o que ficará para a HISTÓRIA é a HOMENAGEM AO “SETE” E À PROBLEMÍSTICA POLICIÁRIA... 50 ANOS DEPOIS!! Marque presença honre e dê prestígio ao Torneio! 👏👏👏