O ADEUS
Era mais uma operação do Agrupamento
Siroco . Sem baixas em anteriores operações também esta se afigurava segura
embora o planeamento sempre fosse a chave do sucesso . Ricardo , com 18 anos
de idade apenas e, cuja mobilização para o Ultramar o apanhou desprevenido , chegara ao
Leste de Angola cheio de esperanças de voltar mais homem e mais capaz .
Alistar-se como voluntário tinha sido o escape para sair de uma vida familiar
difícil . O Pai nos biscates , a Mãe sem trabalho e ele à beira da criminalidade .
Desta vez o Agrupamento
havia sido elaborado de uma forma diferente , o que não convencia muito . O
próprio Ricardo em conversas com quem já havia participado em anteriores
Sirocos , não se sentia muito confortável , embora pensasse de si para si que
os seus receios poderiam ser de todo infundados .
Desta vez a Siroco tinha o seu início
programado para a Chana da Cameia , lugar onde se iriam reunir todas as forças
intervenientes . Seriam cerca de 30 a 35 dias de operação, o que fazia com que
Ricardo pudesse deixar um pouco para trás as atribulações do passado , próprias da
idade , levando-o a pensar apenas no momento . Este tipo de operação era sempre
dividida em duas fases , com a distribuição do pessoal , por especialidades e
operacionalidade . A Unita até que “facilitava” mas havia que estar atento e na
defesa. Rapidamente e após distribuição do pessoal algumas conversas foram
surgindo e rapidamente se criaram laços . Ricardo como enfermeiro de campanha
tinha uma posição avançada o que em termos de guerrilha é uma situação mais fragilizada , mas isso não o assustava sequer . O sinal de partida foi dado e as
coordenadas estudadas . Eram cerca de 08h00 da manhã, de intenso cacimbo, quando
um dos grupos, onde Ricardo se integrava ,
iniciou a caminhada na Chana .
De olhar atento e pé firma todo o grupo caminhava em silêncio . A mochila pesada de Ricardo não o incomodava e muito menos a
arma sua companheira fiel . De camuflado já com alguns vestígios de alguns outros
dias já experenciados na mata , valia-lhe agora quando numa clareira sentiu o
perigo eminente e se deitou no chão. Ouviu um, dois estrondos . O inimigo estava
emboscado e numa desordem invulgar, próprio do factor surpresa do ataque , alguém
tomba , ali a menos de 2 metros de Ricardo . Ele está perto e debruça-se de
imediato sobre o companheiro. Rapidamente abre a mochila e revolve o estojo dos esterilizados, prepara uma seringa
com aminofilina que lhe aplica de imediato no coração . O amigo não
reage , mas num último suspiro e talvez mesmo num último esforço de vida, ele
move os lábios e diz ADEUS , precisamente no momento em que Ricardo era
atingido e tombava de bruços , já inerte, sobre o seu companheiro .
Bom dia. Quanto de verdadeiro não terá este conto? Uma história curta, muito bem sintetizada e de conteúdo profundo. Muito bom.
ResponderEliminar...O mentor da "HORA DO CONTO" - rubrica que está a criar brado, no bom sentido, na Família Policiária - dá o exemplo com um texto de como qualquer um de nós... pode escrever uma simples história, curta, mas com uma mensagem enorme... do tamanho e para todo o Mundo! O flagelo das guerras (sejam elas... quais forem!) despedaçam corpos inocentes... em começo de vida, uma autêntica barbaridade e ninguém põe fim a isto... por variadíssimos interesses! Muito bem, Amigo "Virmancaroli"! Siga...
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