quarta-feira, 18 de junho de 2025

 

O segurança daquela tarde de uma Quinta-Feira do acalorado mês de Agosto no Hospital Municipal da Atalaia, estava tranquilo, permitindo aos profissionais de saúde zelar dos seus pacientes com todo o cuidado .

Ninguém no Hospital sabia ainda era que naquele exacto momento, no outro lado da vila decorria uma manifestação junto ao Mercado Municipal , protestando pelo encerramento deste ao Fim de Semana . Um absurdo .

Para um leigo que chegasse ao local da manifestação ficaria até difícil entender a desproporcionalidade dos armamentos utilizados para embates deste género .

Acrescente-se ao facto dos uniformes azuis-escuros, grossos e sobrepostos por coletes de protecção, tudo isso sob torturante sol, que em muitos dias supera a casa dos 38 graus centígrados, e ainda carregando um escudo e uma arma que chega a pesar seis quilos e medir quase um metro.

Do outro lado, os manifestantes  que nasceram e cresceram na comunidade , que devia servi-los e por isso por ela se manifestavam .

Sem saber-se de onde veio, apareceu um corpulento cão  que partiu de imediato , ladrando  , em direcção à força policial , que num desespero  total , pelo inesperado possivelmente, fizeram fogo, não se dando conta que uma criança corria atrás do animal, os disparos acabaram por matar o cão e feriram gravemente sua perseguidora, uma menina de quatro anos de idade .

Encoberto por um arbusto, uma árvore não conseguiu assistir a tudo e não reagir, disparou uma sequência de tiros certeiros nos policiais. Esses disparos foram o suficiente para accionaram o início de uma verdadeira  batalha que se estendeu até o início da noite, com baixas mais numerosas entre o grupo policial, algo até então imprevisível .

Momentos passados , três viaturas da polícia chegaram e se posicionaram próxima no local dos confrontos, onde dois policias sobrepuseram o corpo dos policias feridos no banco traseiro de uma das viaturas, e já iam partir sem levar a menina. Sua mãe levada em lágrimas ao desespero implorava para que transportassem também a pequena vítima para o hospital.

Conseguiu o intuito, e foi sentada naquele compartimento reservado aos presos. No local da barriga onde o projéctil entrou Maria Deolinda, a mãe da criança, improvisou uma espécie de tampão com a blusa da menina, esperando que a pequena chegasse ainda com vida ao hospital.

Na entrada da emergência, rapidamente duas macas apareceram para levar os dois policias feridos. Teriam esquecido da filha de Maria Deolinda novamente, não fossem seus berros, e batidas fortes no interior da viatura.

Quando abriram a porta do compartimento. Ela foi logo exigindo atendimento prioritário para a menina, já que os dois policias, na realidade tinham assassinado o Bolinhas o cachorro da família e ainda acertaram na pequena Alice.

Mais uma vez veio à tona a versão da bala perdida, quando na realidade todo mundo sabe onde o projéctil vai parar.

Sensibilizados, os médicos que atendiam aos policias, interromperam tudo , quando souberam dos factos e se dedicaram a tentar manter viva a pequena vítima.

Passados alguns dias, os jornais informaram o nome dos policias entre as baixas do confronto junto ao Mercado Municipal, e mesmo assim receberam honras militares, com salvas de tiros durante a cerimónia de enterro.

A menina ferida passou por duas cirurgias e ainda assim se encontra internada em recuperação no Hospital Municipal da Atalaia .

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