Torneio Cinquentenário Mistério Policiário
Este foi mais dos
muitos casos onde marquei presença com a minha participação. Era eu o chefe da
equipa da Polícia Judiciária encarregada do caso.
A vítima era um
conhecido traficante de cocaína, Alfredo Ramos, um homem baixo, de um metro e
setenta, 46 anos, cabelo bem preto, olhos castanhos, ausência total de empatia,
e pessoa sem qualquer escrúpulo.
Apesar de estar
sujeito da nossa parte a uma grande vigilância, tinha sido assassinado bem
perto dos nossos homens, sem eles verem, e, portanto, sem eles poderem
intervir.
*****
Fui conversando com o
médico enquanto ele fazia a autópsia. Eu já o conhecia de muitos outos casos.
Era o Gilberto Gomes.
– Foi um projétil de
calibre 38. Revólver. Observa bem o orifício de entrada.
E eu vi. Era bem
visível, logo acima dos olhos, bem centrado na fronte. Também vi perfeitamente
uma lesão com bordas irregulares, invertidas, ou seja, voltadas para fora, e
uma impregnação centralizada de pólvora.
Não gostava muito de
ver aquele cenário, mas fora ficando habituado com o decorrer dos anos.
Entretanto o Gilberto cortava a cabeça para poder visualizar o seu interior.
– E quanto à
trajetória da bala – perguntei?
– Sempre horizontal –
respondeu. Isso está de acordo com o impacto observado na parede.
– E já sabes se
ele estava de pé, de joelhos, sentado, ou em qualquer outra posição?
– Estava de pé. Todos
os indícios apontam para essa posição. Um deles é a queda. A cabeça terá caído,
desamparada de cerca de um metro e setenta centímetros, fazendo um fratura
óssea na nuca.
– Então, caiu para
trás.
– Neste caso, foi!
Geralmente vemos, nos filmes, as pessoas a levarem um tiro e a morrerem
imediatamente. Nunca é assim, ou melhor, quase nunca, porque nesta situação até
foi. Um tiro na cabeça levou a uma morte instantânea. E a energia cinética do
projétil fê-lo tombar imediatamente para trás.
Vendo como Gilberto
Gomes continuava de volta da cabeça, eu perguntei:
– E na nuca?
O Gilberto observava
a parte detrás da cabeça, onde uma outra ferida, maior do que a da fronte,
mostrava a trajetória do projétil: a entrada e a saída.
De instrumento de
medida na mão, Gilberto dizia:
– Vês? A distância ao
topo da cabeça é a mesma na entrada e na saída, e bate certo com o impacto do
projétil na parede.
O Gilberto tinha
deixado a cabeça e dedicava-se ao abdómen, onde fizera os característicos
golpes necessários para a verificação das diferentes vísceras.
– Comida no estômago!
Tinha feito uma refeição, não havia muito tempo, e estava a fazer a digestão.
Vou mandar para análise o conteúdo. Depois, podes fazer a comparação com outros
relatórios e decidires sobre a hora do crime.
Continuou a falar, e
eu a fingir atenção, mas tudo entrava a cem e saía a duzentos, porque a minha
cabeça estava noutros locais, juntando todos os pormenores e escrutinando os
suspeitos.
*****
Sentado à secretária,
eu olhava uma folha manuscrita com alguns elementos respingados dos vários
relatórios entretanto recebidos.
“Não foi encontrada
nenhuma arma de fogo no local, nem nenhuma cápsula”.
“ A vítima estava
caída de costas”.
“A queda para trás
deixara a vítima com a cabeça a 5 cm da parede”.
“Havia muitas
impressões digitais de Alfredo espalhadas pelo local do crime”.
“ Havia também
algumas impressões da empregada da limpeza e de outras duas pessoas que no dia
anterior tinham estado lá em casa”.
“O cadáver fora
descoberto no dia 16 de fevereiro, cerca das nove e meia da manhã, quando a
empregada de limpeza marcara presença no local. Ela tinha as chaves necessária
para entrar na casa”.
"A empregada
encontrara a porta da casa apenas encostada".
“A primeira análise,
baseada nas temperaturas corporal e ambiental, apontara para a ocorrência do
óbito na noite anterior, dia 15, entre as 9 e as 11 da noite”.
“A vítima vivia numa
casa que estava permanentemente vigiada”.
“Na noite do crime,
no intervalo temporal em que presumivelmente ocorrera a morte, tinha havido
quatro as pessoas a entrar na casa da vítima, ou melhor, no seu quintal. Todos
eram conhecidos da polícia, pelas atividades exercidas, todas na margem da
legalidade”.
“Nenhum dos
visitantes, à saída, demonstrara qualquer anormalidade no comportamento,
situação expectável daqueles suspeitos”.
“Alfredo era o
responsável por um carregamento de cocaína intercetado por nós, e por isso
estava a ser vigiado, para ver se encontrávamos mais algum dos chefes”.
“ A mercadoria, em
elevada quantidade, e por isso muito valiosa, pertencia a outro traficante. Não
era do Alfredo”.
“A vítima falava e
escrevia fluentemente inglês e alemão, embora quando escrevesse para os
alemães, ou estes o fizessem no sentido inverso, a comunicação fosse em língua
inglesa”.
" A porta da
casa foi encontrada apenas encostada pela empregada".
*****
Peguei num outro
papel onde tinha a descrição dos quatro indivíduos suspeitos. Todos eles tinham
entrado na casa e entre eles teria de estar um assassino.
“Meyer estava longe
de ser um alemão típico. Media só um metro e cinquenta e cinco centímetros,
apesar de muito louro. Era aquilo que normalmente se designa por pessoa má. Não
tinha escrúpulos de qualquer espécie. As suas estadias no nosso país eram
irregulares. Na véspera quando visitara Alfredo, fora visto entrar com luvas”.
“Hans também era
alemão. Este já parecia pertencer à nacionalidade germânica. Com mais de um
metro e oitenta de altura, tinha olhos azuis e cabelo louro. Escrúpulos, também
não possuía, como o demonstravam as muitas atividades de legalidade duvidosa
onde estava envolvido, e também comparecera de luvas na casa da vítima. Vivia
em Portugal havia quatro anos”.
Continuei a ler as
informações. Agora sobre os dois estadunidenses.
“Campbell era natural
do estado do Minesota. Alto, com um metro e noventa e cinco, parecendo um
jogador de basquetebol, entrara na casa com luvas colocadas. O cabelo preto,
curto, ornava uma cabeça onde se ocultava um cérebro capaz de magicar as mais
incríveis manigâncias. Não falava português, como era próprio dos nativos de
língua inglesa”.
“Simon era natural de
uma cidade grande: Chicago. Talvez, por causa da sua origem, se julgasse um
grande gangster. Cabelo castanho, assim como os olhos, marcavam um rosto onde
se desenhava a inocência de uma criança. O seu metro e cinquenta e sete de
altura ajudava a compor este aspeto infantil. Mas tudo era fictício. Era um
homem duro. Havia já três anos, assentara arraiais no nosso país e era bem
conhecido por todas as autoridades policiais. Para não variar, visitara a
vítima usando luvas”
*****
Pousei o papel e
pensei noutros pormenores. A apreensão da droga ocorrera dez dias antes, e
verificara-se, no comportamento de Alfredo, uma elevada preocupação.
Conseguíramos capturar uma carta que ele iria receber de um dos suspeitos.
Peguei na carta e depois vi alguns excertos, já traduzidos, à letra, da missiva
original, escrita em inglês.
O sobrescrito não
tinha remetente nem impressões digitais, assim como a carta estava
completamente limpa. Tudo apontava para o seu autor ser também o assassino e
traficante. A escrita da missiva era motivada pelo facto de Alfredo não poder
pagar, nem conseguir, a enorme quantia em dívida. Por isso nós o vigiávamos.
Haveria o um contacto, disso nós tínhamos a certeza, mas nunca imaginamos o
assassino a correr tantos riscos.
Ou o assassino tinha
sido o quarto a entrar na casa, ou todos, ou alguns, sabiam fingir muito bem
uma tranquilidade inexistente, tendo vindo embora quando encontraram o cadáver.
Entraram todos pelo
portão do quintal de muros altos, mas lá dentro não se sabia se tinham
ingressado na casa ou ficado à porta. Não era possível ter visto, apenas havia
a certeza, porque a casa tinha vigias em todo o seu perímetro, de que mais
ninguém passara para o quintal da casa.
“Estou preocupado”.
“Tem uma semana para me devolver o dinheiro”. “Até poderiam ser 3 mil milhões,
4 mil milhões ou 100 mil milhões”. “Quero os meus 4 milhões”. “ “A culpa da
apreensão foi sua”. “Não tratou do assunto devidamente”. “Se não pagar, morre”.
“ Já sabe qual será o seu destino se eu não receber o dinheiro,”
Como era óbvio, o
dinheiro não fora devolvido.
A Luísa, uma colega
de trabalho constituinte da equipa de investigação, aproximou-se.
– Então, já se
sabe mais alguma coisa?
– Penso saber quem
foi o assassino. Achas pouco?
– E vais fazer o quê?
– Vou fazer um
relatório e enviá-lo para o Ministério Público. Está nas mãos do Procurador a
decisão a tomar.
*****
O Procurador decidiu
bem e o juiz julgou, pois tudo veio a ser provado em audiência, apesar de o
assassino acabar por confessar. Em tribunal provou-se o modo como foi cometido
o crime. Demonstrou-se a legalidade das buscas, ficou evidente a necessidade da
vigilância, ficou demonstrado ter sido o matador a escrever a carta, não
fingindo ser outra pessoa, revelou-se que uma arma encontrada na posse do
assassino tinha servido para abater a vítima e ficou exposta a pertença ao
homicida da droga apreendida.
*****
Aqui, interrompe-se a narrativa e pede-se aos
leitores, para, com base nas linhas escritas acima, apresentarem um raciocínio
indicador de quem foi o assassino.
| ENDEREÇOS E PRAZO PARA O ENVIO DE RESPOSTAS |
As respostas devem ser enviadas impreterivelmente até às 24h00 do dia 31 de Março de 2025 , através dos seguintes exemplos :
As respostas devem ser enviadas impreterivelmente até às 24h00 do dia 31 de março de 2025, através dos seguintes meios:
a - Por email, correio eletrónico, de A Página dos Enigmas: apaginadosenigmas@gmail.com;
b - Entregando em mão ao orientador do Blogue A Página dos Enigmas, Paulo, onde quer que o encontrem;
c - Utilizando o Correio Normal (CTT):
Luís Manuel Felizardo Rodrigues
Praceta Bartolomeu Constantino, 14, 2.º Esq.
FEIJÓ 2810 – 032 ALMADA.
Nota:
Além dos prémios em disputa ao longo do torneio, serão sorteados em cada problema os seguintes prémios:
- 1 Livro de Problemas Policiários e Soluções de M. CONSTANTINO, oferta de Salvador Santos, juntamente com um Bloco de Apontamentos da Tipografia Lobão, oferta de José Silvério, para sortear entre os concorrentes totalistas.
- 1 Conjunto de 12 Postais Ilustrados de Montemor-o-Novo, oferta de Francisco Salgueiro, para sortear entre todos os concorrentes não totalistas.
Neste problema ainda serão atribuídos os seguintes prémios, ofertados pelo autor.
Concerto a quatro mãos, atribuído à solução totalista que tiver menos palavras.
Os caminhos de Idalécio, a sortear entre todas as soluções não totalistas.
Na produção também há um prémio para o 6.º Lugar – LIVRO – Oferta de Salvador Santos.
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