quarta-feira, 13 de novembro de 2024

 Problemística Policiária – IV

Texto de  A.Varatojo publicado no ABC Policial n .º 2

A.Varatojo

Há várias espécies de problemas tipos que podemos classificar entre as seguintes categorias : eliminatórias , contradição , técnico , trajectórias , limitação horária , enigma, OBSERVAÇÃO e IMAGINATIVO .
Vejamos cada um destes tipos principais, isoladamente, terminando hoje com as sétima e oitava categorias :

OBSERVAÇÃO

O chamado problema de FOTO-CRIME ou crime pela imagem tem  um elevado número de adeptos e um reduzido número de produtores, os mais notáveis dos quais são, a nosso ver : Austin Ripley, Roy Post e Mileson Horton .
Em Portugal «o crime pela imagem» não surgiu ainda, apenas porque tem uma tendência onerosa não recompensada por manifesta exiguidade de revistas da especialidade que possam estimulá-lo .
A utilização de modelos vivos, a decoração de ambientes e a produção do problema formam um bloco que gostaríamos de ver movimentar num futuro próximo, pois estamos certos de que ele abriria novos horizontes à problemística policial no nosso país .
Conjuga por vezes em si, vários outros tipos e em especial o da contradição . O suspeito presta declarações que estão em nítida oposição  aos dados colhidos na fotografia por aqueles que possuem agudeza de espírito e um índice de observação desenvoltos .
O «Sherlock» é obrigado a analisar com minuciosa atenção todos os elementos que lhe são facultados numa ou em várias fotos que assim lhe possibilitam a resolução do caso.
Em vez de fotografias podem ser utilizados desenhos à pena que, embora não imprimam tanta semelhança com a realidade, já produzem uma aceitável substituição das fotos .
O tipo de desenho deve contudo ser minucioso e clássico, sem nada daqueles modernismos em que a semelhança das figuras com coisas e pessoas … é pura coincidência .
Só assim será possível exigir ao decifrador que utilize as suas faculdades de selecção e de raciocínio para obter no vértice delas uma solução clara e impa sem subterfúgios hesitantes .
Nada mais prejudicial à problemística policial do que enfrentar uma solução propositadamente dualizada, por um autor inexperiente ou erradamente convicto que o problema é tanto melhor quanto mais difícil é a sua resolução .
A faculdade de seleccionar e arquivar na memória os dados de interesse para facultá-los à rápida consulta, à mínima associação de ideias, desempenha , por assim dizes, o papel do fotógrafo hábil que sabe fotografar apenas o que convém.
Dugas afirmava : « a memória não é um depósito portanto não se trata de enchê-la, mas de seleccionar o que se lhe dá».

IMAGINATIVO

A imaginação, ponte lançada pelo raciocínio sobre factos reais e concretos passa por cima da concatenação lógica para inferir, de ilações basilares, dados mais genéricos .
De alguns saltos bruscos resultam necessários erros consequentes.
Os problemas do tipo imaginativo colocam apenas à disposição dos «engenheiros-raciocinadores» os dois pilares básicos onde assentam as suas pontes de imaginação – o criminoso e o crime .
A construção, a estrutura, o comprimento e a ligação dos extremos, tudo fica sujeito ao critério individual do solucionista .
A  maior ou menor dotação da sua inteligência permitir-lhe-á criar uma ponte segura que aguente firme as avalanches da crítica e as marés vivas da incerteza.
Procurar o «modus operandi» do criminoso, a sua possibilidade lógica da execução do crime, a relação entre «como» e o «porquê» do enigma constituem o mais aliciante exercício para todo aquele que procura nos problemas de raciocínio uma válvula de escape para um excesso de fadiga mental .
Pela diversidade de caminhos e atalhos que convergem para o ponto comum da solução estes problemas gerem a maior parte das vezes desinteligência entre vários solucionistas que reputam o seu caminho de mais seguro, menos pedregoso e de melhor construção .
A estrada oficial do autor nem sempre satisfaz os mais renitentes que se manterão firmes em declarar que os eu atalho é mais curto, embora por vezes seja recheado de evidentes sinuosidades .

by : Blogue - Detective da História

( Publicação de 6 Janeiro 2019 )

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