terça-feira, 22 de julho de 2025
segunda-feira, 21 de julho de 2025
1.º TORNEIO POLICIÁRIO
“ Português Suave “ - SIMPLEX
Problema - 7 | A Causa da Morte
( em cena até 14 de Agosto )
O corpo de uma mulher foi encontrado junto ao mar , num cenário demasiado “pesado” para o Inspector Prazeres .
O corpo fora localizado logo pela manhã, pela Fany , a golden retriever de
Diniz .
Não havia qualquer identificação e só poderia ser, presume-se , mais uma
das pessoas desaparecidas por aquelas bandas .
Estes são alguns dos pormenores desafiantes para que possa elaborar o seu RELATÓRIO e participar no trama … ! Contamos consigo .
A TESTEMUNHA
Olhou o corpo a seus pés. Inerte, caído
no sangue que lhe saía do peito e ia alastrando no soalho.
Pelas janelas, as cortinas que
ocultavam os vidros impediam qualquer visibilidade do exterior. Para além da
porta da sala, naquela casa, ele sabia que não havia mais ninguém. Dali, nada
viria que o pudesse denunciar. Mas, dentro daquele compartimento, ele estava
ciente de que não seria assim. Ele não ignorava que uns olhos o tinham visto
disparar sobre o Ricardo. Sabia que este fora visto a cair, repentinamente, por
efeito dos tiros. Mas, não seria por muito mais tempo que esse conhecimento
também seria de outro. Dentro de momentos seria ele o único a saber quem
cometera aquele crime.
Faltava menos de um minuto. Então o
crime ficaria perfeito. Olhou a parede da sala e aguardou.
Foi levantando o braço direito com a
arma na mão. Apontava para onde sabia que ele surgiria. Para onde faria os
disparos. Eliminaria a única testemunha. Mais ninguém saberia que fora ele o
assassino.
Estava quase. Cinco, quatro, três,
dois, um.
Disparou dois tiros sobre a portinhola
onde surgiu o pássaro.
Cucu! Cucu! Cu…..
domingo, 20 de julho de 2025
Um advogado estacionou seu
BMW novo em folha na frente de seu escritório, pronto para mostrá-lo aos seus
colegas. Logo que ele abriu a porta para sair, um caminhão passou raspando e
arrancou completamente a porta. O advogado atordoado usou imediatamente o seu
telefone celular, discou o 112 e dentro de minutos um polícia chegou. Antes que
o policia tivesse uma oportunidade o advogado começou a gritar histericamente
que o BMW, que ele tinha comprado no dia anterior, estava agora totalmente
arruinado e nunca mais seria o mesmo. Por conta disso, iria processar o
motorista, Deus e o mundo, fazer e acontecer. Afinal era doutor, etc…
Quando o advogado finalmente
se acalmou, o polícia agitou sua cabeça em desgosto e descrença e disse:
— Eu não posso acreditar
no quão materialistas vocês advogados são. E disse mais:
— Vocês são tão focados em
suas posses que não notam mais nada.
— Como você pode dizer tal
coisa ? O senhor tem noção do valor de um BMW ? — pergunta o advogado.
O polícia respondeu:
— O senhor não percebeu
que perdeu seu braço esquerdo ? Está a faltar do cotovelo para baixo. Ele deve
ter sido arrancado quando o caminhão bateu no senhor.
— Puta que pariu ! Onde
está o meu Rolex ?
BOM DIA
Desfrutem e aproveitem este fim de semana da melhor forma possível ...
sábado, 19 de julho de 2025
A
música alta abafava todos os sons, excecpto o burburinho das vozes e o tilintar
de copos na festa luxuosa organizada pela Câmara. Era a noite mais aguardada do
ano e, para o detetive Rafael, cada segundo era uma corrida contra o tempo. Ele
sabia que o assassino estava ali, camuflado entre os convidados, pronto para
fazer sua próxima vítima.
No
meio da multidão, o detective a avistou, linda em um vestido preto simples. Ela
sorriu ao vê-lo, mas sua expressão mudou ao notar a gravidade em seu olhar. Ele
não teve coragem de contar sobre o perfume. O frasco tinha chegado naquela
manhã, com um bilhete anónimo que Katarina, inocente, achou romântico.
Era doce e cítrico, intenso e marcante — exactamente o tipo de fragrância que atraía o assassino."É sempre o mesmo padrão... Ele escolhe mulheres jovens, cabelos escuros, e as presenteia com aquele maldito perfume. Um bilhete anónimo, palavras doces... Parece romântico, mas é a assinatura dele. Uma armadilha. Um aviso de que elas estão marcadas. E agora, Katarina recebeu o dela. Não pode ser coincidência."
O relógio marcava 23h55. Ele tinha cinco minutos para salvá-la. Pois já conhecia os modos de agir do assassino."Não foi só pela aparência... Ela o desafiou, expôs sua caçada doentia. Quando aquela menina ligou para o número denúncia, foi Katarina quem ligou os pontos e acionou a equipe a tempo. Salvou uma vida. Porém ele fugiu. E agora, ela se tornou um alvo. O perfume, o bilhete... É a maneira dele dizer que vai terminar o que começou. Só que desta vez, eu não vou deixar."
Rafael não tirava os olhos de Katarina, acompanhando cada movimento dela na multidão. Mesmo sem saber, ela era um alvo. O perfume que usava fazia dela um íman para o assassino. De longe, ele viu quando um garçom se aproximou. Entregou-lhe uma bebida e um pequeno bilhete dobrado. Katarina o aceitou com um sorriso curioso, abriu o papel e o leu rapidamente. Quando seus olhares se encontraram, ela sorriu com emoção.
"Ela pensa que fui eu." Não havia tempo para explicações. Ele foi em direcção a ela, os olhos fixos, cada passo pesado pela tensão. Numa fracção de segundo, Rafael a perdeu de vista. O salão parecia tê-la engolido."Não, não agora!" Ele disparou em meio à multidão, a mente gritando com as possibilidades. Katarina, com o bilhete ainda em mãos, avançava em direcção a saída do salão, com o sorriso de expectativa ainda no rosto. Para ela, estava indo ao encontro de Rafael. Para ele, era uma corrida contra o tempo para impedir que o assassino fizesse sua jogada final.
Rafael
chegou ao lugar mais escuro da festa, um corredor pouco iluminado que levava a
uma saída lateral. Seu coração disparava, tanto pela corrida quanto pela
preocupação. Ele não conseguia ver Katarina, mas o perfume ainda estava no ar,
como uma trilha invisível que o guiava.
Uma
silhueta surgiu das sombras. Ela estava lá, os olhos brilhando de um jeito que
nunca tinha visto antes. Segurava o bilhete na mão, no entanto, o sorriso
gentil que ele conhecia havia desaparecido.
—
Você veio — disse ela, com uma tranquilidade assustadora. Katarina
ergueu a mão, e o brilho metálico da arma foi a última coisa que ele viu antes
de ouvir o som dos tiros. Ele
caiu de joelhos, o mundo girando ao seu redor. O perfume era sufocante agora,
misturado com o cheiro de pólvora. —
Você...? — Rafael conseguiu dizer. A
mulher com o perfume inebriante se aproximou, inclinando-se sobre ele.
—
Sempre foi você, Rafael. Agora... está feito.
Katarina
amassou o bilhete e jogou sobre o corpo inerte de Rafael . Era meia noite !
sexta-feira, 18 de julho de 2025
Torneio Cinquentenário Mistério Policiário
( em cena até 31 de Julho )
O ASSASSINATO DO VELHO MILIONÁRIO
quinta-feira, 17 de julho de 2025
| CRIMINOLOGIA |
Os tipos de criminologia
Criminologia clínica
A criminologia clínica foca-se no estudo e no tratamento de indivíduos que cometeram crimes. Os/as profissionais
desta área avaliam os/as delinquentes, identificam os fatores subjacentes que
contribuem para o seu comportamento criminoso e desenvolvem estratégias de
intervenção e reabilitação.
Por exemplo, um/a criminólogo/a
clínico/a pode trabalhar numa prisão para criar programas de tratamento destinados a delinquentes com
problemas de saúde mental e/ou dependências.
Criminologias
especializadas
As criminologias especializadas
concentram-se em áreas mais específicas da criminologia, como a criminologia ambiental, a criminologia de género, a criminologia da
vitimização, entre outras. Cada uma analisa um aspeto particular do crime,
oferecendo uma compreensão mais profunda e detalhada de fenómenos
criminológicos específicos.
Por exemplo, a criminologia de género
estuda a relação entre o género e o crime, examinando como os fatores de género
influenciam a prática e a vitimização do crime.
Assim, a criminologia é uma disciplina
diversa e em constante evolução que abrange uma ampla variedade de abordagens. Por isso surgem os diferentes tipos de
criminologia, cada um contribuindo de forma única para o entendimento e a gestão do crime na sociedade.
CLASSIFICAÇÕES
PROBLEMA N.º 6 / 49 participações
E porque de um Torneio SIMPLEX
se trata … participar , marcando presença , é sem dúvida alguma muito mais apelativo ,
não existindo assim a mais leve pressão de ter que ser-se melhor … ou diferente !
quarta-feira, 16 de julho de 2025
1.º Torneio Policiário Português Suave
PROBLEMA - 6
de : Junho 2025
Paixão Assassina
O Inspector constata que a caligrafia da carta , que Nazário lhe mostrou, se inclinava muito para a esquerda e a tinta da carta estava esborratada, indícios de como se tivesse sido escrita febrilmente , com presença de suores ao momento e, possivelmente por uma pessoa canhota . Também a análise do grafólogo que Nazário poderia mostrar ao Inspector que a carta tinha sido escrita por uma pessoa fria , sem carácter , calculista e muito mais … presume-se isso !
A arma do crime tinha sido encontrada do lado esquerdo de Helena, o que
significa que era provável que o assassino tivesse usado a mão esquerda para a
espancar . Helena estava a segurar a espátula com a mão direita, o que para o
Inspector era sinal de que seria destra . As suas suposições estavam correctas
: o NOVO namorado de Helena era canhoto e fora ele que escrevera a carta a
Nazário, para tentar mantê-lo longe de Helena. Quando mais tarde ouviu a voz
amigável de Nazário no atendedor de chamadas, o assassino ficou convencido que
Helena estava a traí-lo, e por isso, matou-a num ataque de ciúmes . E depois armou uma cilada a Nazário .
Também torna-se claro se a Helena tinha um NOVO namorado , e tudo aponta que
sim, este obviamente deveria ter participado a ocorrência , já que a visitaria
regularmente, mas se não o fez torna-se claro foi ele que a matou , não
voltando mais à casa , depois do ocorrido, esperando então que alguém
aparecesse , o que levou alguns dias a acontecer ... !
Convém ainda salientar que numa descrição sumária do estado em que a casa se
encontrava, não é referida qualquer menção a haver telefone , mas se Nazário
disse que ligou várias vezes e que deixou até mensagem no atendedor , torna-se
óbvio que o Inspector confirmou isso durante a investigação … logo seria um
tremendo absurdo se não houvesse mesmo telefone e Nazário o tivesse mencionado
, até porque ele garante com firmeza ter feito várias chamadas até e deixado
mensagem . Tudo isto teria sido confirmado pelo Inspector e ai os seus juízos
sobre o ocorrido .
NOTA :
Para este problema e, porque houve supostos
intervenientes , na narração, “ausentes”, foi tomada a opção de se reavaliar as
pontuações, o que é perfeitamente justo, não havendo assim a pontuação única
de presença ( 5 pts. ) , sendo esta automaticamente acoplada ( sem acréscimo )
quer à solução tida como correcta, em parte , ( 8
pts. ) quer à mais elaborada ( 10 pts . ) ! Neste cenário, ilibar Nazário do
crime e não apontar sequer um culpado , justificando, foram considerados, só por si, factores determinantes na pontuação .
E porque de um Torneio SIMPLEX se trata … participar , marcando presença , é sem dúvida alguma muito mais apelativo , essa a finalidade , não existindo assim a mais leve pressão de ter que ser-se melhor … ou diferente !
terça-feira, 15 de julho de 2025
1.º TORNEIO POLICIÁRIO
“ Português Suave “ - SIMPLEX
JULHO 2025
( by : Blogue - Momento do Policiário )
Diniz deixava
a sua cadela golden retriever sair
todas as manhãs para vasculhar o terreno do parque estatal até ela esgotar o
instinto exploratório . Fany era uma boa cadela e voltava sempre passado uma
hora . Hoje Diniz olhou para o relógio e reparou que Fany tinha saído há muito
mais tempo . Ele espreitou pela porta das traseiras e chamou-a.
Depois assobiou, mas ela não deu sinal .
- Não podia ter escolhido uma manhã mais quente para uma caminhada longa miúda
? – resmungou ele enquanto vestia o casaco e calçava as botas , para depois
avançar com passos pesados pelo terreno alagadiço à procura dela . De tantos em
tantos passos, Diniz ia chamando : «Fany!» E lá se ia arrastando até à beira da
água . Fany era retriever , era
recolectora, e muitas vezes regressava a casa com um presente especial para
ele, na boca , em geral um animal . Por isso Diniz tinha um mini-cemitério
atrás da garagem , cheio de patos, texugos e outros animais que morreram de uma
forma ou de outra na floresta.
Quando ele chegou à margem, avistou Fany a pouco menos de 50 metros. Ela estava
a farejar qualquer coisa que dera à costa ; algo muito maior que um pato.
- Fany – chamou Diniz . Ela olhou para cima, ganiu e abanou a cauda, mas não se
afastou do seu tesouro .
Diniz caminhou pela gravilha da margem até se aproximar o suficiente para ver o
que ela tinha encontrado. Ao chegar, assobiou de espanto. Depois prendeu a
trela de Fany ao anel da coleira, ligou o telemóvel e telefonou para a esquadra
da Polícia .
Quando a equipa de agentes chegaram, tiraram fotografias ao corpo muitíssimo
decomposto da mulher . Inspector Prazeres, de costas voltadas para a vítima.
Aquela visão deixava-o mal disposto . Ele tornara-se Inspector daquele burgo
adormecido porque não tinha qualquer interesse em resolver casos de mortes como
esta .
Depois de uma inspecção visual, o médico-legista disse :
- nesta altura do ano, a água está muito
fria . Pode estar aqui há mais tempo. Mas parece ser mais ou menos isso .
- Bem, vou
precisar de algum tipo de estimativa para começar a analisar as participações
de pessoas desaparecidas – disse Inspector Prazeres, enquanto fumava um cigarro
para controlar os nervos.
- Consegues dizer-me alguma coisa sobre a causa da morte ?
O médico-legista
virou o corpo com muito cuidado . O rosto da mulher, ou o que restava dele,
tornou-se bem visível .
- Parece-me muito óbvio – afirmou Diniz.
Qual acha que teria sido a causa da
morte ? Justifique a sua resposta !
NOTA ADICIONAL :
Embora a " Causa da Morte " seja a CHAVE do problema, a justificação da resposta não sendo tão óbvia como possa parecer, é que a valoriza ... !
by : MDV ( compilação editorial )
NOTA FINAL :
Os projectos de solução deverão ser enviados até ás 24h00 do dia 14 de Agosto de 2025 , para viroli@sapo.pt .
Boa Sorte
segunda-feira, 14 de julho de 2025
DESAFIOS DE LÓGICA PARA IMPRIMIR
( 6. Visita ao Aquário )
Os Desafios estão em formato PDF , com níveis de dificuldade diversa (muito fácil, fácil, médio e difícil) , estando disponíveis para download directo , para imprimir .
domingo, 13 de julho de 2025
Um indivíduo, talvez já
não muito sóbrio, ligou para a polícia
para participar que ladrões tinham entrado no seu carro e lhe roubado peças :
— Eles levaram o painel do
carro, o volante, o pedal do travão, do acelerador e até a alavanca das
mudanças ! — reclamou ele, desorientado .
— Desculpa sr. Polícia... sou eu de novo , está lembrado ! É que sem querer eu entrei pela porta errada do carro e sentei-me no banco de trás... dá para retirar ainda a queixa ?
BOM DIA
Desfrutem e aproveitem este fim de semana da melhor forma possível ...
A CRIMINALÍSTICA
Sendo uma ciência forense por onde são elucidadas informações sobre crimes de inúmeros tipos e que garante a justiça e a solução de crimes e ilegalidades , vai ter aqui a possibilidade de conhecer pormenorizadamente os alicerces desta vertente policiária ao ter aqui disponível uma cuidada selecção de livros de Criminalística !
Hoje disponibiliza-se aqui, em formato PDF , o livro sobre " A utilização da Ciência Forense e da Investigação Criminal como estratégia didática na compreensão de conceitos científicos ( artigo ) " da responsabilidade de Ana Paula Sebastiany , Michele Camara Pizzato , José Cláudio Del Pino e Tania Denise Miskinis Salgado.
sábado, 12 de julho de 2025
O DIA EM QUE O MUNDO ACABOU
( Baseado em factos reais )
Sozinho no elevador, Ricardo foi invadido por uma sensação pouco habitual.
Era um final de tarde de Primavera ainda tímida e descia em direcção ao
estacionamento da grande loja de móveis e iluminação. Fora finalmente comprar o
seu sonhado "candeeiro de escritor", um daqueles verdes, de
quebra-luz translúcido horizontal. Tinha planeado um aprazível fim-de-semana
prolongado de escrita da sua primeira novela de mistério, e, fosse por se ter
achado subitamente sozinho num edifício tão grande, ou fosse a atmosfera
literária que já o invadia, sentiu-se inquieto.
TING! As portas abriram-se. Estava no parque de estacionamento, na cave.
Resolveu aproveitar a disposição inesperada para imaginar o seu conto. Talvez
começasse num parque de estacionamento, com um cadáver de chapéu borsalino,
fato branco e eco de passos em fuga. Ou um extra-terrestre de longo
casaco preto e óculos escuros. Ou, quem sabe, uma mulher de vestido escarlate,
num descapotável, à sua espera de arma na mão.
Ao longe, as últimas claridades do dia prateavam os cimos da Serra de
Sintra, e, ao seu redor, mais uma vez, solidão e silêncio. Tudo parecia
abandonado. Os seus passos ecoavam no piso quase vazio de viaturas. Um vento
fresco fazia rodopiar pedaços de papel em volta dos seus pés. Entrou no carro e
arrancou direito a casa, ainda sob efeito da atmosfera de presságio e dos
pensamentos sombrios, tão desconhecidos para um optimista inveterado como ele.
O tempo parecia estar a mudar.
"Pouco movimento na estrada", pensou. "Também não admira, é
quarta-feira e deve haver futebol...". O que é certo que deu por si a
ligar o rádio do carro em busca de uma voz humana que afugentasse os temores
vagos que teimavam em não o abandonar. Uma cantora de voz de falsete fê-lo
estremecer com a informação de que "não veio o ladrão" e "já não
há pessoas". Um relâmpago púrpura cortou os céus e iluminou por momentos
os contornos dos bairros suburbanos encavalitados nas colinas. O rádio
calou-se, o motor gemeu e Ricardo engoliu em seco.
Chegou a casa já de noite, sob uma forte bátega, entrou com o carro na
garagem (abençoado comando à distância) e chamou o seu gato amarelo, o Dick,
grande amigo e secretário oficial nas amenas vigílias de escrita. Não teve
resposta. Subiu as escadas, acendeu as luzes e ligou o televisor. "Com uma
disposição destas, até um noticiário seria bem-vindo", pensou.
Abençoou a arenga do locutor, que cavaqueava com dois painelistas de
futebol, fazendo a "antevisão da partida". Riu-se dos seus temores
semi-paranormais e fez um voto solene de nunca os contar a ninguém. "Mas
talvez os use como inspiração", pensou. De súbito, a trovoada cresceu, a
electricidade foi-se embora e um estrondo aparatoso veio da garagem, no
rés-do-chão. Susteve a respiração e apurou os ouvidos. Havia ALGUÉM lá em baixo.
E a única saída era lá por baixo!!!
Nas histórias de detectives, seria a altura propícia para ir buscar um
atiçador. Mas ele não tinha sequer lareira. E quanto a facas, sentiu-se um
tanto acanhado de ir buscar uma redonda, de mesa, que era o que de mais letal
tinha em casa. "Numa situação como esta, Sherlock Holmes já teria um
pequeno revólver Webley RIC na mão. Raios!".
Chuva, trovoada, falta de luz, e o tal ladrão da cantiga parece que tinha vindo
e estava no rés-do-chão a remexer tudo! Que noite!... Que noite!... "E
para cúmulo, já não há pessoas!". Ou pelo menos parecia, pois tudo era
escuridão, a falta de luz era geral, e no seu bairro todos estavam recolhidos,
ou... ausentes!
Ricardo Gonçalves nunca contou a ninguém que se meteu debaixo da cama até a
trovoada passar e a luz regressar. E muito menos que o ladrão afinal era
amarelo, tinha cauda e causou o aterrorizante rebuliço, depois de ter acordado
sozinho na garagem em noite de tempestade! Foi quando o Dick resolveu miar, que
ele percebeu...
Quando se sentou finalmente para escrever a sua história de mistério,
acompanhado de Dick e de uma chávena de chá preto, ainda considerou escrever
uma história de extra-terrestres e mulheres escarlate. Acabou por
desistir. O ronronar do Dick parecia um justificado pedido de co-autoria.
Soltou um longo suspiro, sorriu e escreveu o título: O DIA EM QUE O MUNDO
ACABOU.